domingo, 4 de dezembro de 2011

"AS MENINAS" presente da Profª Regina para Júlia


Nesse ano, todos nós fomos desafiados de maneiras extremamente inusitadas, com estilos literários que não estávamos familiarizados e com outros que ninguém pensou um dia resenharia. Mas a melhor de todas às vezes, foram aquelas nas quais desafiamos a nós mesmos. Eu, particularmente, disse a mim mesma que até o final do ano leria um clássico brasileiro, quase não o fiz, por isso agradeço à Regina por ter me ajudado a cumprir minha promessa.

Em “As Meninas”, de Lygia Telles, o leitor é inserido no universo de três jovens, em suas mentes, seus medos, frustrações, sonhos e expectativas. Quando digo isso, quero dizer literalmente. 

Um livro com quatro narradores pode ser meio assustador, mas ignorando o fato de me perder às vezes (como quando o narrador mudava no meio de um parágrafo), descobri que não há modo melhor de conhecer as personagens de uma história senão esse. Além da visão das próprias, ainda havia o narrador em terceira pessoa, só para esclarecer/confundir um pouco mais as coisas.  

Talvez eu esteja extrapolando no uso de antíteses porque o livro todo é uma. Afinal, o que você diria de três jovens que não se parecem nem um pouco, mas são amigas, não amigas cheias de futilidades, amigas próximas e sinceras, tão sinceras que às vezes me pego odiando todas elas, mas como eu disse, é isso que acontece quando se conhece cada pensamento das personagens. 

Lorena, Ana Clara, Lia. Não, nada de nomes americanos, dessa vez são nomes brasileiros mesmo, comuns. A primeira é a mais inocente, delicada, fanática por ordem, rica, amante do latim, tão carinhosa e prestativa que eu mesma tomei a liberdade de lhe chamar de Loreninha, mas a mais correta das jovens não é tão correta assim, pois mantém um... como posso chamar? Envolvimento talvez. Isso, um envolvimento com um homem casado, M.N. O tão amado M.N. que nem aparece na história a não ser nas lembranças de Lorena, nem mesmo um beijo dele foi lembrado, provavelmente porque nunca aconteceu.

Lia, filha de uma baiana com um ex-nazista, a revolucionária Lia, que luta contra a ditadura com toda sua alma, exposta a riscos o tempo todo e tendo o namorado preso pelos militares. Sempre correndo para pedir ajuda à Loreninha quando as coisas estão difíceis, as narrações de Lião (esse apelido não é de minha autoria), essas eram fáceis de notar, sempre objetivas e citando política.

 E então Ana Clara, o que posso dizer de Ana Clara? Os raros momentos nos quais ela apareceu diretamente no livro foram os que ela narrava, mas como saber algo sobre ela, se nem a própria sabia o que era realidade ou fantasia. Lião a chamava de Ana Turva, talvez seja o apelido que mais implica sobre as características das jovens. Ana Clara é uma jovem pobre, que vive no mundo das drogas, por isso o apelido, e que almeja com todo o coração e cobiça o casamento com o noivo rico, prometendo para si e para qualquer um que quisesse ouvir que largaria o vício e o namorado Max, um traficante, assim que se casasse, começando uma nova vida. Porém no final do livro, assim como Lião, eu já havia percebido que esse noivo nunca existiu. A proximidade que não consegui ter de Ana, porém, me tornaram um pouco fria em relação ao seu trágico fim, não que ela seja pior do que as outras, mas os capítulos dessa personagem eram cansativos e enrolados, com frases entrecortadas e sem sentido algum, pois em todas as suas narrações ela estava sob efeito das drogas, misturando o namorado Max, com memórias doloridas do passado e até mesmo duendes, saber o que era real? Um desafio.

Essas três vidas foram cruzadas em um pensionato de freiras e, mais tarde, separadas pelo destino. Ao ler o livro, a sensação é de entrar no meio de uma história e começar a conhecê-la desde o início através das lembranças, o término não é muito diferente, foi como se eu parasse de ler o livro um capítulo antes do fim. Mas esse estilo de inserir o leitor na cabeça das personagens torna tudo mais alucinante e complexo, um modo de conhecer suas características impecável, algo que me leva a pensar que o quanto mais confuso e incomum, mais fascinante para mim. 

Um final feliz era o que almejava para as três garotas, mas isso não foi exatamente possível. Lia, Lorena e Ana Clara nunca mais vão se encontrar de novo, disso estou certa, mas também asseguro que nunca esquecerão o que aprenderam umas com as outras, não muito, mas o suficiente, dizer o que foi? Impossível, nem presenciando os pensamentos de cada uma eu descobri.

4 comentários:

  1. Juh,

    Não sei se foi impressão minha, mas essa resenha foi a mais descontraída que fez esse ano. Cheguei até a pensar que tinha perdido seu charme clássico (Depois de Orgulho e Preconceito fica difícil até de comentar rs). Com o desafio terminado, você se saiu muito bem, a resenha ficou ótima. E acredito que não vai esquecer tão cedo essas três meninas. Isso me faz lembrar a gente... Como você disse: tão diferentes, mas próximas e sinceras. É claro que somos diferentes de amigas de um livro, mas nossa amizade é muito maior!

    Bjsss

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  2. nossa, quando regininha chegou na sala falando que comprou nao sei qts livros pro amigo livro dela rezei para que nao fosse eu! uehuehuehuehe (te amo regininhaaaaaaa)
    mas parabéns julia!! escreveu mt bem, como sempre!!

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  3. Concordo com a Gabi e com a Ravany! Suas resenhas são sempre ótimas, mas você tem sua própria escrita o que torna as resenhas um tanto quanto cultas. E essa você retratou de forma mais descontraída, parabéns.
    E quanto a concordar com a Ravany não seria nem pelo fato da quantidade de livros e sim do que ela escolheria, porque como ela sempre diz: Sou prof de português e tenho que fazer vocês lerem obras literárias e bla bla bla

    Parabéns, Veridiana

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  4. Júlia,

    Mesmo não sabendo concretamente do que se trata o livro, fiquei encantada com as personagens tão diferentes mas que tinham uma coisa comum: problemas... e quantos problemas! Uma relação com um homem casado e envolvimento no mundo das drogas são típicos do tempo moderno, mas com certeza eram peculiares na realidade da época em que se passa a história dessas três meninas. Adorei a forma coloquial e, ao mesmo tempo, singela que escreveu. Suas reflexões acerca das garotas deixaram sua resenha descontraída, como disse a Gabi.

    Bjss, Jéssica Ferrari

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